quinta-feira, 10 de julho de 2008

IV Frota da US Navy é uma realidade, e as preocupações também.


Desativada desde 1950, a IV Frota Naval da Marinha dos EUA retornou suas atividades desde o dia 12 de junho. Trata-se de uma divisão da esquadra estadunidense destinada aos mares Latino-Americanos, com potencial de navegação em águas internas. Na época de seu lançamento, logo após o fim da Segunda Guerra e início da Guerra Fria, tinha como objetivo patrulhar a costa e águas Latino-Americanas contra qualquer possibilidade de levante subversivo ou de origem soviética. Foi desativada logo no início da década de 50, porém o histórico de ingerências e intervenções diretas dos EUA na América Latina sempre foram traumáticas e um atentado contra a soberania desses países.
Ainda que o Governo Bush justifique a necessidade da IV Frota para missões de paz e solidariedade internacional, e combate ao narcotráfico, na América Latina, a decisão coincide com um momento ímpar na história da América do Sul. Crescimento econômico, blocos se unindo, descobertas de grandes reservas de petróleo, grande potencial alimentício, domínio das técnicas de biocombustível, e o mais preocupante para o Tio Sam, governos populares se renovando e se elegendo por todo o continente, fazem com que a preocupação com a IV Frota seja uma realidade.
Engana-se quem acha que as operações irão se limitar à região amazônica. A hidrovia Paraguai-Paraná é tão estratégico quanto o próprio rio Amazonas, resguardando as devidas proporções. Não foram poucas as manifestações de interesse estadunidense pelas áreas como Foz do Iguaçu, principalmente após o ressurgimento do Mercosul. A região sul do Brasil é área situada exatamente no meio entre o sudoeste brasileiro e Argentina, Uruguai e Paraguai. E até uma proposta de base militar dos EUA em Foz do Iguaçu, em nome de uma medida preventiva contra o terrorismo, foi tentada e barrada pelas características populares tanto do Governo do Paraná quanto do clima de elegibilidade de Fernando Lugo para a presidência do Paraguai. Governos populares como o de Cristina, na Argentina; Tabaré, no Uruguai; Lugo, no Paraguai; Hugo Chavez, na Venezuela; Bachelet, no Chile; Correa, no Equador; Morales, na Bolívia; e o próprio Lula, no Brasil; são riscos reais para um país como os EUA que, quando não consegue impor seus objetivos pela pressão econômica aos governos populares, não teme nenhum resultado de uma intervenção armada.

Esporte e Relações Internacionais (parte 2)

Quando se fala em eventos como as Olimpíadas, fala-se tanto de superação de limites atléticos e técnicos quanto de um cenário de divulgação institucional dos países, de suas propagandas ideológicas, tudo em um imenso palanque de discursos protagonizados pelas mais diferentes mídias. Interesses estatais e corporativos se atritam e convergem-se o tempo todo, tanto pelo seu poder político quanto pelos aspectos de mercantilização do esporte. E o profissional de Relações Internacionais pode ser peça-chave para que objetivos sejam alcançados com total excelência.


Lazer e espetáculo de massas, formadora de personalidade e de espírito combativo entre todas as classes sociais, propulsor do turismo e gerador de empregos diretos e indiretos, provedor de bens e serviços, desenvolvedor de pesquisas e tecnologias, além de instrumento de propaganda estatal e privada. Para o profissional de Relações Internacionais, definitivamente, não são os aspectos lúdicos ou competitivos que realmente importam, isso obviamente cabe aos organismos próprios do esporte. Há, porém, uma política sobre o esporte e outras tantas que acompanham o mesmo. O planejamento e a utilização da atividade desportiva no quadro das orientações políticas e administrativas, esses sim, objetos de interesse do profissional de RI. Essa política fornece uma infinidade de contratos, contatos, concorrências, relacionamentos entre Estados e entre interesses financeiros privados, além da disputa pelo prestígio e projeção internacional. Esses elementos, quando juntos, necessitam de uma abordagem multidisciplinar do qual o profissional de Relações Internacionais é o mais apto para tal. Esse profissional irá orquestrar os demais profissionais envolvidos como um maestro e sua orquestra para que se execute uma bela sinfonia. Vai, portanto, além da execução administrativa, além da contabilidade, além das questões jurídicas, além da medicina esportiva, e tantos outros ramos profissionais também importantes no mundo desportivo.


Conflitos de linguagem, rivalidades históricas, dificuldade para coexistência pacífica, são elementos considerados corriqueiros no cenário internacional. Mas no cenário esportivo, a velocidade em que se estabelecem e se resolvem esses elementos acabam sendo mais eficazes que qualquer organismo internacional político ou ainda ações bélicas. Uma ação descoordenada, sem profissionais capazes de se analisar o todo com propriedade e distribuir tarefas de acordo com os interesses políticos do próprio esporte e os demais interesses com ele envolvidos pode resultar numa catastrófica atuação, seja estatal ou privada, e podendo até mesmo desencadear conflitos de ordem diplomáticas.

Boa parte do sucesso que o país obteve com a realização dos Jogos Pan-Americanos, no Rio de Janeiro, deveu-se aos profissionais de relações internacionais, ainda que em sua esmagadora maioria pertencentes ao quadro profissional do Itamaraty e do Ministério dos Esportes. Com a chegada de um evento descentralizado como a Copa do Mundo em um país de enormes contrastes regionais como o Brasil, esse profissional deverá ser requisitado em todas as esferas públicas, privadas e de terceiro setor. Quando falamos em São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, que possuem razoáveis números de profissionais bem preparados para exercer as atividades de Relações Internacionais, dão confiança o bastante para que nessas cidades a Copa seja um sucesso. Entretanto, serão ao menos oito cidades, podendo chegar a doze, e nenhuma delas, a exceção das três citadas acima, possuem tranqüilidade no que diz respeito à inserção do profissional de Relações Internacionais. E cabe principalmente às comunidades acadêmicas desenvolver meios para que esse profissional seja bem quisto e exigido pelo mercado de trabalho a fim de se explorar ao máximo, e de maneira sadia, todos os potenciais que a Copa de 2014 oferece para o país.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Esporte e Relações Internacionais (Parte 1)

Sim, você que é ou será um profissional de relações internacionais tem tudo a ver com as Olimpíadas e a Copa do Mundo.



Quando na faculdade de Relações Internacionais, o indivíduo vai adquirindo conhecimentos científicos e potencial de pesquisas que o torna apto para abranger com competência os mais variados, os mais tradicionais, os mais típicos, e também os mais inusitados temas das disputas territoriais, lutas emancipacionistas ou expansionistas, das afirmações de nacionalidades e movimentos insurretos, rivalidades de toda ordem e classe, guerras, pazes, tratados, convenções, enfim, todo um aparato capaz de fazer do indivíduo um profissional apto para analisar a prática e a crítica diplomática, seja essa governamental ou corporativa. Entretanto, os atores políticos presentes em qualquer análise internacional se envolvem em temas dos mais diversos, o que exige que o profissional de Relações Internacionais tenha conhecimento acerca de temas como meio-ambiente, transferência de renda, recursos hídricos, bio-diversidade, e também o esporte.
Tratar o esporte enquanto mero "panis et circenses" em Relações Internacionais equivale ao equívoco, ou delírio, de atribuir qualquer espécie de culpa pela Argentina permitir a entrada de massas de ar polar que fatalmente irá derrubar as temperaturas em terras brasileiras. O esporte, há muito tempo, é tratado pelas principais potências mundiais, e recentemente pelo Brasil (em 1999 com a criação do Esporte ao Ministério da Cultura, e principalmente em 2003 com a autonomia plena com o Ministério dos Esportes), enquanto preocupação estatal e digna de orçamento e políticas públicas próprias, e seus objetivos são claramente econômicos e de disputa de poder.
Um evento como a Olimpíada é capaz de transformar balanças comerciais deficitárias em superavitárias em tempo recorde, como foi o caso da Austrália nas Olimpíadas de 2000. As Olimpíadas de Inverno em Salt Lake City foi de tamanha complexidade que não faltaram situações de desconforto diplomático e pronunciamentos de Chefes de Estado exigindo retratações ou mudanças. A Copa do Mundo do Japão e Coréia foi evento que obteve resultados diplomáticos melhores e em menos tempo entre as Coréias que ao longo de toda experiência das Nações Unidas sobre o assunto já conseguira obter. Além disso, provoca sensos de nacionalidades nos mais variados atores políticos, e um sentimento pátrio capaz de arrastar multidões e sensibilizá-los nas mais diversas causas sociais.
Em 2014 haverá Copa do Mundo no Brasil. Caberá à administração que será eleita nas eleições municipais atuais preparar todo o ambiente e as reformas urbanas e políticas necessárias para que os olhos do mundo recaiam com visões positivas sobre as cidades-sede dos jogos desse campeonato. Ao longo de 2009, 10, 11, e 12, cidades como Curitiba, uma das possíveis sede dos jogos, passará obrigatoriamente por profundas reformas, pelo menos em sua distribuição e desenvolvimento urbano e paisagístico. E, com a chegada de investidores, mega-corporações do esporte ou suas corporações ligadas direta ou indiretamente, poder estatal, política e organização social mobilizada em torno desse evento, certamente diversos profissionais internacionalistas valerão ouro no mercado de trabalho. O profissional de Relações Internacionais, tão inédito ainda nas mentes corporativas do conservador, e também um tanto atrasado em relação ao mundo, Paraná, certamente será requisitado para se atualizar e buscar garantir a excelência dos atores políticos e sociais no grande evento do futebol e da política internacional.
Nesse sentido, há um repto aos acadêmicos e às comunidades acadêmicas de Relações Internacionais: planejem, capacitem e divulguem as Relações Internacionais. O profissional capaz de enfrentar sem maiores vacilos as novas cidades internacionalizadas que renascerão com a Copa de 2014 e outros gigantes eventos esportivos.